Wednesday, September 21, 2011

FALKENAU, O IMPOSSÍVEL









FALKENAU, THE IMPOSSIBLE

por Louis Skorecki

(Falkenau, the Impossible). 1988. Michklan World Production (52 minutos). Direção: Emil Weiss.
Produção: Emil Weiss. Roteiro: Emil Weiss. Fotografia: Pierre Boffety, Samuel Fuller (P/B e cor). Montagem: Emil Weiss (não creditado), Samuel Fuller (não creditado). Música: Teddy Lasry. Elenco: Samuel Fuller (também narrador).

O horror que escapa à vista

O horário é tardio mas não se deve perder estes 35 minutos assinados por Samuel Fuller sob qualquer pretexto. Quem ama o cinema se precipitará à Visão do impossível por ser, segundo as próprias palavras de Fuller, seu « primeiro filme », um filme que tem a graça terrível dos mais belos Dreyer. Quem quer saber o que foi o Holocausto (e não o Shoah, atenção a esta palavra poética que não significa nada) encontrará nestas imagens assustadoras, mas jamais grandiloqüentes, a melhor das respostas.

O jovem Fuller, 34 anos, tem entre as mãos sua primeira câmera, uma Bell and Howell à manivela que lhe foi enviada pela mãe. Muda evidentemente. Preto e branco evidentemente. Seu batalhão está a um passo de liberar o campo de Falkenau, na Tchecoslováquia. Um campo de concentração ordinário, pouco conhecido, sem importância. Não possui sequer uma câmara de gás, isto é. Nada a não ser cadáveres de uma magreza aterradora, corpos judeus comparáveis a duas gotas de água em relação aos corpos mais midiatizados saídos do inferno de Treblinka ou de Maïdanek.

« Percebe-se o amador », diz Samuel Fuller ao rever essas imagens. Um silêncio, depois ele acrescenta: « Mas a matança, isso era obra de profissionais ». As imagens foram montadas com a ajuda de Emil Weiss, que filma também em contraponto (e em cores) o velho Samuel Fuller, juba branca ao vento, de volta aos locais desse « pesadelo inesquecível », 44 anos depois, em 1988. O capitão ordenou aos notáveis de Falkenau, os que pretendiam nada ter visto, nada saber, de exumar esses corpos esqueléticos, vesti-los, antes de atravessar a cidade empurrando a carreta, e de enterrá-los. O espetáculo desses cadáveres descarnados, vestidos um a um, é aterrorizador, a humilhação pública, a de haver mentido, é infinitamente pior. Os soldados americanos e os sobreviventes do campo estão lá, plantados, como em um circo. A tortura psicológica infligida por Lanzmann às testemunhas polonesas dos campos em Shoah encontra aqui sua cena primitiva. Vocês mentiram, agora pagam. Toda a verdade e o horror do Holocausto estão lá, não busque em outro lugar.

(Libération, 30 de janeiro de 2006)

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